Eu era uma moça que tinha inventado um jeito maluco de dirigir ônibus sentado no banco do passageiro. Minha invenção era pra poder ajudar meu irmão, cadeirante, a dirigir.
Pegamos o ônibus, daqueles amarelos escolares americanos, e fomos até a loja do meu avô mostrar a invenção para ele, que achou muito bonito. A loja vendia de tudo, mas tinha uma vasta coleção de instrumentos musicais.
Quando saímos de lá, várias equipes de TV já se preparavam para fazer uma reportagem sobre minha invenção, mas consegui fugir deles.
Fui em direção a área alagada da cidade. O ônibus não era mais um ônibus, era daqueles barcos rasos com um ventiladorzão nas costas. Eu não era mais uma moça, era eu mesmo.
Andei pela área alagada e vi várias casas destruídas. Gente muito pobre morando em condições péssimas, acumulando lixo e coisas encontradas nas casas abandonadas. Dava pra ver algumas tocando banjo. Tentei fotografar, mas estava indo rápido demais.
No meio do caminho, um sujeito estava sentado no alagado, embaixo de um gol de futebol e tocando banjo. Dei meia volta para fotografá-lo, mas vi uma mulher chamando dois caras para ajudar a curar o filho dela.
Um deles pediu para eu ir junto. Achei que daria uma boa foto e fui. Peguei minha espingarda e entrei na casa.
Lá dentro, depois de subir algumas escadas, um menino meio gordo estava sentado de frente para uma lareira. A barriga dele estava completamente aberta, com os órgãos expostos, mas não sangrava. Era uma ferida gigante.
As pessoas começaram a rezar. Eu dei a volta na cena e fiquei de frente para o machucado e de costas para o fogo. De repente, vi que uma bola de papel estava na minha mão e que ela tinha o mesmo formato que a ferida do menino. Coloquei fogo no papel e a ferida começou a acender. Era um demônio. Rezamos e o demônio, aparentemente, foi embora. Agora era só uma ferida normal.
Alguma outra coisa começou a acontecer, mas eu não percebi e acordei.